Imagens exibidas pelo programa Fantástico neste domingo (7) trouxeram à tona detalhes do atendimento de Benício Xavier, de 6 anos, que morreu após um erro médico registrado em 23 de novembro, em Manaus, no Amazonas.
As gravações, captadas por câmeras de segurança, mostram o menino chegando ao Hospital Santa Júlia com tosse seca e febre. A suspeita inicial apontava para um quadro de laringite. “Eu disse ao meu marido: ‘Vamos levar ele para a emergência?’. Porque eu acreditava que a garganta dele estava muito inflamada”, relatou a mãe, Joice Xavier de Carvalho.
No dia anterior, sábado (22), o estado do menino não foi considerado grave. “Só podiam deixar um responsável entrar no consultório, então fui eu. A médica examinou ele e informou que faria adrenalina. Não explicou o motivo, apenas avisou que seria aplicada.” Joice lembrou ainda que, um mês antes, Benício havia sido atendido no mesmo hospital e medicado com adrenalina por inalação, procedimento que sempre foi seguido.
Desta vez, porém, a médica Juliana Brasil Santos prescreveu adrenalina pura, não diluída, administrada diretamente na veia em três doses que, somadas, continham 9 miligramas. Com a prescrição, a família se dirigiu à enfermaria.
Para surpresa dos pais, o medicamento foi aplicado por via intravenosa, e não por nebulização. “Cadê a inalação? Sempre foi assim que a adrenalina foi dada para ele”, questionou a mãe. Segundo Joice, a técnica de enfermagem Raíza Bentes afirmou que também nunca havia feito aquele tipo de administração, mas que estava seguindo exatamente o que constava na prescrição.
Logo após receber o medicamento, Benício precisou ser levado às pressas para a sala vermelha, destinada a casos críticos. Os pais dizem que ele seguia consciente, mas com extrema dificuldade para respirar.
A saturação despencou para cerca de 75%. O menino foi levado à UTI por volta das 23h e, durante o processo de intubação, sofreu a primeira de seis paradas cardíacas. Ele não resistiu e morreu às 2h55 do dia 23 de novembro.
Segundo as investigações, a médica admitiu o erro em um documento encaminhado à polícia e em mensagens enviadas ao médico Enryko Queiroz pedindo ajuda. A defesa, no entanto, afirma que essa declaração teria sido feita “no calor do momento”. A técnica de enfermagem responsável pela aplicação, Raíza Bentes Paiva, também está sendo investigada. Ambas respondem ao processo em liberdade.
“O que temos é o relato de algumas testemunhas. Três delas apontam diretamente para essa situação, e eu tornei isso público porque todas as defesas têm acesso aos depoimentos”, disse o delegado Marcelo Martins, que conduz o caso.
As testemunhas ouvidas trabalhavam no hospital no momento do atendimento. “A médica teria tentado acessar a prescrição original para apagá-la e alterar informações no sistema, de forma que o erro — a administração de adrenalina na veia em vez de nebulizada — não aparecesse”, afirmou o delegado.
Caso essa tentativa de ocultar dados seja comprovada, a médica poderá responder por um crime mais grave. A polícia analisa a possibilidade de dolo eventual, avaliando se houve negligência com potencial consciência de risco à vida de Benício.
VIDEO DO ATENDIMENTO.


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